A Carta da liberdade

 Caminhava pelas escuras e frias ruas da noite, mesmo cercado de pessoa ainda me sentia sozinho… em meio a esta solidão, uma suave e quente chama se forma ao acender meu cigarro: a fumaça em meu pulmão, traz paz a minha mente e me permite encarar o mundo a minha volta. Por mais que caminhasse sozinho, não estava sozinho, algo caminhava ao meu lado, não sei o que é ou quem é: ele me acompanha desde sempre, como um fiel escudeiro nas estradas frias da vida. No meio daquela multidão, me sentia em um deserto: vazio e árido, seco e áspero, onde não havia vida, apenas a suave brisa da noite. Essa brisa me fazia pensar, meus pensamentos engoliam meu ser.

 A sociedade, de uma maneira estranha, favorece a fraqueza humana e a escravidão. Não somos homens libertos, apenas aprenderam a trocar: o açoite, pelas dívidas; o pão, pelo dinheiro; as lavouras, pelos escritórios e o tabaco, pelo consumismo. Compramos de tudo, ao ponto das coisas que possuímos, nos possuir . Vivemos para comprar: um homem não tem valor pelo o que é, mas pelo o que possui.  Não há mais estrelas no céu noturno, apenas luzes artificiais: são aquilo que iluminam a nossa noite, não adianta a lua mais bela, se não há dois amantes se beijando diante dela.  O amor se tornou algo plástico e vazio, um mero status; a vontade, se perdeu em meio aos desejos da carne; o homem, não mais reconhece sua natureza divina, se é que um dia a conheceu. Vivemos a era de ouro conhecimento, mas por que me sinto cercado por idiotas? Talvez eu seja o maior deles.

 Alguém interrompe meus pensamentos, ele esbarra em mim, colocando algo no bolso do meu casaco: olho para trás, busco o vê, mas ele se perde em meio a multidão. Coloco a mão no bolso, se trata de uma bola de papel. Eu desembrulho, vendo que era uma carta, uma singela carta, com palavras simples e ao mesmo tempo com profundos significados: parecia um chamado. Cada palavra prenetrava o meu ser, me dando animo e alegria, parecia um caminho para me libertar da minha escravidão.