A Yoga por Aleister Crowley



“Yoga é a arte de unir a mente com um único objeto” - Cartas aos Probacionistas







Introdução



 A Yoga está associada tanto às práticas físicas, quanto às práticas meditativas e ela se trata da união da mente com uma coisa, que comumente é chamada de objeto: nesta união se dá a meditação. A meditação, pode simplesmente significar: estar presente. Todo ato de presença, é um ato meditativo: estar consciente do que está fazendo e porque o faz.


 O método de Yoga utilizado por Aleister Crowley em Liber ABA, utiliza-se uma base do Hatha Yoga, Mantra Yoga e Raja Yoga: que conduz ao controle do corpo,  o silenciamento dos pensamentos (calmaria mental) e  controle da mente através da vontade. O objetivo final é o Samadhi, que é a perfeita união com objeto. Existe muito misticismo sobre o que é este Samadhi, porém: sabe quando você está fazendo uma atividade, ao ponto de esquecer quem é ou o tempo, não se importar quando irá acabar e estar 100% presente, parecendo que você e esta atividade são uma coisa só? Isso é o Samadhi, pelo menos em sua forma mais simplificada. Existem Samadhis que derivam de algum transe místico ou estados de consciência distintos, que nos levam a outras percepções da realidade. 


Então, todo o método de Aleister Crowley tem o fim, daquilo que podemos chamar de: estar 100% no presente, mas para que?


 “O mundo progride em virtude do aparecimento de Cristos (gênios).” -Cartas aos Probacionistas


E isto faz todo o sentido, pois o objetivo central do Liber ABA é a criação de gênios ( também é o objetivo da A.A.): seres humanos dotados de capacidades mentais, físicas e espirituais e com sua luz são capazes de impulsionar a raça além. De nada adiantaria a mais perfeita inteligência em um homem completamente disperso: vivendo preso ao passado  ou ao futuro, se prendendo aos seus desejos e frutos de seu trabalho, inquieto e indisciplinado. Todo seu potencial, se perderia em meio à dispersão e à inércia. A genialidade (super consciência) pode ser atingida através de métodos conhecidos, um destes métodos é a Yoga.


 Essa genialidade, pode não ser a mesma dos grandes cientistas ou músicos, pode ela não lhe deixar famoso ou rico, pois está ligada a sua Verdadeira Vontade. A Vontade (observe o “V” maiúsculo), é aquilo que está ligado à sua natureza e se tratando “do motivo pelo qual Deus  lhe chamou para esse mundo”, ou seja, toca mistério da sua encarnação. Assim a Vontade  de um padeiro, é fazer pão; de um professor, ensinar; de um cientista, conhecer… ela é algo íntimo e apenas seu, pois você se fez perante um destino herdado e esse destino herdado, lhe deu as ferramentas para realizar a sua “missão” de maneira única, pois você é um ser único.


Finalmente agora, podemos entender a Yoga por Aleister Crowley: ela é um mecanismo (ferramenta) que serve para você conseguir realizar a sua Verdadeira Vontade, controlando a dispersão da sua mente; desejos do corpo e seus dramas emocionais. Lembrando que: controlar, não é reprimir e muito menos não sentir, mas ter as ferramentas para lidar com uma raiva, por exemplo ou um dia que não sente desejo de fazer algo: se tratando de disciplina. Assim consegue atingir a excelência do seu ser, estando em Eudaimonia com todo o universo.


As práticas da Yoga citadas em Liber ABA são 7: Asana, Pranayama e Mantra, Yama e Nyama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e Samadhi.





Asana


 Asana é imobilidade, se trata de permanecer imovel em uma postura por um determinado período de tempo. Essas posturas podem ser encontradas em Liber E Vel Exercitiorum (seção III), porém qualquer postura confortável e que de preferência a coluna fique ereta, pode ser utilizado como Asana. A postura em si, não importa tanto: todas ficam extremamente desconfortáveis em longos períodos de prática, até o corpo se acostumar com a imobilidade.


 O motivo de se praticar Asana é que: quanto mais agitado o nosso corpo está, mais agitado a nossa mente se torna, controlando o corpo, passamos a controlar a mente de maneira indireta. Não é atoa que pessoas ansiosas, em seus surtos, começam a se movimentar sem parar de um canto para o outro ou tem espasmos musculares involuntários: toda a tensão da mente é jogada no corpo. Para lidar com essa tensão, recorremos a vários métodos danosos  a longo prazo:  a busca por prazer.  Temos descontrole de compras; de comida; bebidas (alcoólicas) e até mesmo sexuais, tudo como válvula de escape para nossa ansiedade  mental. Se apenas paramos por um tempo, sem se mexer, ficamos quietas: naturalmente a nossa mente irá se acalmar.


O recém praticante, pode acabar acreditando que a sua postura é muito desconfortável, então ele deve buscar outra, porém isso é um engano. A grama do vizinho é sempre mais verde, nós temos um péssimo hábito de achar que aquilo que não temos, será melhor do que já temos. Isto também ocorre com Asana, você pode experimentar: fique deitado por um período de tempo, imovel, seu corpo irá dar mil e um motivos para se mexer; isto se a sua mente também não lhe atrapalhar.


Outro erro cometido é o de "colocar de vez”: ao invés de começar aos poucos e treinando devagar, as pessoas tendem a começar logo de cara com uma hora ou meia hora. Isto é como: colocar uma pessoa que está aprendendo a dirigir agora, em um carro de Fórmula 1, correndo a 300 KM/h, nem preciso dizer que é uma péssima ideia. Comece devagar,  um minuto por dia, aumentando 10 segundos a cada dia. Ao longo deste período irá criar um hábito de praticar Asana e assim com o tempo acabará conseguindo praticar as ditas uma hora.


Uma outra forma de se praticar, quando estiver no seu terceiro mês, é o Treino de Resiliência: este treino consiste em passar uma hora (ou mais) em Asana, porém quando não estiver aguentando mais, permitir a quebra do Asana (sair da postura), dá uma volta pela sala, então anotar a hora da quebra e voltar para o Asana, fazendo isso até o tempo acabar. Esse método conduz, aos poucos, o aumento da sua persistência na dor e sendo um ótimo treino de vontade.


 O maior indicador de sucesso é o conforto no Asana: quando naturalmente seu corpo busca aquele Asana e nesta postura você se sentir extremamente confortável, obteve sucesso na prática.  Para se certificar deste sucesso, tente praticar Asana por 1h e 30 minutos, conseguindo isto sem se mexer, podemos seguir para Pranayama.





Pranayama e Mantra


 Pranayama, se trata do controle do prana, prana pode ser traduzido como energia, então pranayama é o controle de energia. Esse controle se dá através da respiração, causando assim uma calmaria: física, mental e emocional. 


 É muito comum jargões do tipo: “conta até  dez e respira fundo”, a respiração está diretamente associada com todo o fluxo de nosso corpo, pois somos dependentes do ar para sobreviver. Por causa disto, um controle respiratório sequencial é muito importante para atingirmos o controle da mente, pois tal fluxo, influenciará diretamente na quantidade de pensamentos e reduzirá  a ansiedade mental. Em Liber E (seção IV),  podemos observar exemplos de práticas de pranayama, com tempos de respiração  bem definidos. 


 Existem estudos muito aprofundados sobre o prana, que não serão mencionados aqui: o objetivo nosso não é se aprofundar na existência metafísica, porém demonstrar que com esses métodos podemos melhorar a nossa vida e atingir a super consciência. Dito isso, a respiração está diretamente relacionada à quantidade de pensamentos, quando estamos muito agitados, a nossa respiração se altera, se tornando rápida e desesperada.  Se acalmarmos a nossa respiração, iremos reduzir o fluxo de pensamentos e então de como consequência obter um profundo relaxamento. A sensação é de sono, um sono bem agradável, onde nada abala aquela serenidade e plenitude atingida. O tempo de prática recomendado por Aleister Crowley é de no mínimo uma hora, sendo ideal 4 horas de prática. 


 As práticas mais  avançadas de Pranayama, estão em  Liber RV Vel Spiritus, sendo dadas ao Zelator da Astrum Argentum. É interessante que após ter obtido sucesso nas práticas do Liber E, o praticante explore as técnicas  deste livro.


 Mantras são palavras ou frases (normalmente retiradas de textos sagrados) sendo repetidas diversas vezes. A prática dos mantras tem um objetivo similar ao Pranayama: acalmar a mente. Essa repetição contínua, conduz a um transe, onde apenas resta o mantra ecoando pela mente. 


 De fato, qualquer palavra ou frase pode ser usada como mantra, mas de uma maneira estranha, mantras sagrados tendem a ser mais eficazes. Pode ser um poder inato contido nestes textos ou relevância (valor) que nós damos a eles. Uma pessoa ocidental, tende a ter algum sentimento ao olhar para uma cruz em uma igreja, podendo ser: simpatia, raiva, desprezo… esses símbolos estão tão enraizados em nossa sociedade, que mesmo sem querer,  damos valor a eles. O mesmo pode ser entendido por um mantra oriental, ao estudarmos e conhecermos melhor aquela tradição, temos a tendência a se conectar melhor àquele símbolo. 

“Não blasfeme o nome de Deus em vão”, quanto  mais sagrada se torna aquela palavra, menos é a nossa tendência usarmos ela em vão, e ao usarmos de maneira banal: menor será o efeito daquela palavra.  É muito interessante observamos já nesta pŕática, como a nossa mente se relaciona com os símbolos a sua volta e cabe ao investigador, desvendar esses mistérios ao longo de sua prática.


Em Liber ABA, temos uma coleção de mantras disponíveis e todos são de extrema qualidade. É interessante que o investigador comece por aí, explorando cada um destes mantras, não apenas de maneira prática, mas também teórica. Que ele observe atentamente, o que cada mantra causa na sua mente e as sensações que ele transmite, pois ao praticarmos mantra, estamos nos unindo há um objeto através da fala.  


Crowley sugere o método de aceleração. Comece o mantra normal, vamos chamar esse normal de 1, aumente para 1,25; 1,50; 1,75… Até pronunciar o mantra todo com um ou poucos movimentos bucais, Após feito isso, continue o mantra nos seus pensamentos, fazendo o mesmo processo anterior.  Evite a dispersão da sua mente, mantenha-se concentrado no mantra em todo o processo.


Outra maneira é acelerar e desacelerar: inicie pronunciando o mantra de maneira normal (1), então aumente a velocidade para 1,25x e após isso retroceda à 1x e diminua para 0,75x… Sempre aumente 0,25 e reduza 0,25.  Quando chegar  a pronúncia do mantra em toda a velocidade que a sua boca consegue e na menor velocidade da mesma, dirija a prática em seu pensamento.


 Determinadas ações podem causar ansiedade na mente e é este estudo que nos leva aos Yamas e Niyamas.





Yama e Niyama


 Yama é: “o que fazer” e Niyama: “o que não fazer”. Eles estão associados a coisas que trazem paz e serenidade a nossa mente e aquilo que agita a nossa mente (ansiedade, culpa…). 


 Boa parte destes Yama e Niyama são herdados de uma sociedade, um bom exemplo destes é os 10 mandamentos bíblicos, que ao serem quebrados tem a punição social e a culpa mental. Trabalhando assim iremos  podemos observar que:



Yama

Nyama

1- Amar teu Deus acima de Todas as coisas

1- Não amar Deus acima de todas as coisas

2- Não tomar o nome de Deus em vão

2- Tomar o nome de Deus em vão

3- Guardar o Domingo e festas Sagradas

3- Não Guardar o Domingo e festas Sagradas

4- Honrar teu pai e tua mãe

4- Desonrar seu pai e tua mãe

5- Não Matarás

5- Matar

6- Não pecar contra castidade

6- ser incasto

7- não furtarás

7- furtarás

8- Não dá falso testemunho

8-  dá falso testemunho

9- Não desejar a mulher do próximo

9- desejar a mulher do próximo

10- Não desejar as coisas alheias

10- Desejar as coisas alheias


Ao declararmos uma ação como Yama, o oposto dela será um Niyama e o oposto também  é verdadeiro.


É interessante pensar que: não estamos em busca da bondade ou santidade, esse experimento serve para vocẽ descobrir aquilo que irá atrapalhar a sua mente e aquilo que não irá atrapalhar. Então cabe a você descobrir quais coisas são essas, mas lembrando temos as leis de nosso país, estado e município, então evite a cadeia.  





Pratyahara


Pratyahara está relacionado com uma interação do mundo exterior, que causa uma impressão no mundo interior. Resumidamente é: aquilo que faz pensar, o que pensamos; agimos como agimos; falar o que falamos, ou seja, o controle dos sentidos.


A investigação proposta por Crowley, é de algo totalmente interno. Não se trata de apenas reprimir os pensamentos, mas de observarmos eles. Claro que ideia toda é reduzir o fluxo, aumentando o espaço de um pensamento para o outro, pois de outra maneira a prática de Dharana se torna impossível. No entanto, o ato de reprimir irá causar o aumento de pensamentos.


 O primeiro passo é você não pensar, no sentido de: você não está pensando, apenas observe a sua mente. É importante salientar que: você não é sua mente, ela é uma ferramenta e não você. Então a imagem é de um homem olhando para um rio: se o rio estiver perturbada, será impossível (ou muito difícil) observar o seu interior e não produzirá um reflexo fiel de si mesmo. Então apenas observe a sua mente, deixe um pensamento vim e deixe ele ir… fazendo isso, gradativamente o rio irá se acalmar, pois não terá uma força que faz com que ele esteja inquieto.


Cada um irá ter um ambiente ideal para prática, já vi gente meditar com: Black Metal no fundo. As mesmas coisas serão percebidas diferente, por outras pessoas. Ainda assim, o recomendo que sempre pratique, uma vez ou outra, no silêncio; em um local indolor e em temperatura ambiente. 


A nível de observação, comece praticando nas mais diferentes situações e perceba o que acalma a sua mente e o que não acalma. Não apenas durante a prática, antes dela faça coisas diferentes e cada vez mais inusitadas. O mesmo irá ocorrer com as suas emoções antes da atividade, o mesmo conselho dado anteriormente, se aplicará aqui. As relações interpessoais, também irão influenciar: pense em um dia que brigou feio com a sua namorada(o), então aqueles sentimentos virão a conduzir pensamentos em relação a ela.


No fim, infinitas coisas podem influenciar você. Quando perceber isso, nasce uma importante lição:


“ Vai aos lugares mais externos e submete todas as coisas.

 Submete teu medo e teu desgosto. Então - entrega-te!” 

- Liber LXV I 45,46.


Torna-te indiferente a tudo e a todas as coisas. Isso pode ser mágico para alguns, porém não se trata de deixar de se importar, mas de ser calmo e sereno, tanto em uma situação alegre quanto em uma triste. Somente estando feliz a todo momento, mesmo quando o universo estará lhe alegrando ou lhe entristecendo, terá obtido o controle de suas sensações, e assim não será mais influenciado por coisas externas e nem internas. 


Por fim podemos prosseguir para os Samyama.





Dharana


 O primeiro dos três Samyama é Dharana, que é concentração, o ato de tentar se concentrar em um objeto sem perder o foco e evitando distorções, até conseguir uma concentração plena, restando apenas você e o objeto,  isto chamamos de Dhyana.


 Se formos traçar um paralelo com uma apresentação de violão, Dharana é afinar o instrumento ou o treinamento que antecede a apresentação; se estamos falando de sasgo, Dharana são as preliminares. Dharana não é se concentrar perfeitamente, mas o ato de treinar essa concentração e quando por fim quando conseguirmos, estaremos tocando o instrumento (Dhyana).

 O início da prática de Dharana é frustrante, não só o objeto começa a se distorcer, quanto se não tivermos obtido um bom resultado com o Pratyahara: pensamentos constantemente irão invadir a nossa mente. Porém  a melhor coisa que se pode fazer é: não se importar, caso o objeto se distorça, lembre que é só um treino e traga ele a sua forma inicial. Tal como quando erramos uma nota enquanto estamos aprendendo uma música, devemos observar aquilo que erramos e tentar de novo, assim também é com Dharana.


 É muito interessante que o praticante, observe como a sua mente reage a cada objeto: objeto que ele têm mais desejo, como por exemplo sua ou seu crush, este objeto tende a se distorcer menos, por mais que outros pensamentos possam vim a mente. Com os símbolos sagrados ocorre a mesma coisa, como já foi dito na parte de mantras. Anote cada pensamento que veio durante a prática, como sua mente reagiu perante ele e principalmente se pensamentos similares ocorreram ao observar o mesmo objeto em dias diferentes.


Agora o que diabos é um objeto? O objeto pode ser literalmente qualquer coisa: uma música, cenas de um filme, uma forma geométrica, um dragão, uma tarefa… As possibilidades são infinitas. O ato de meditar, deve ser levado para toda sua vida, não apenas em momentos específicos do seu dia: não pratique Asana apenas quando for fazer yoga às 15 horas da tarde, pratique também enquanto trabalha, estuda e etc… O mesmo é com Dharana, tente se concentrar em tudo que você for fazer e estar ali: no presente, evitando a dispersão do pensamento.  


Em Liber E, vamos encontrar na seção V, alguns exemplos práticos de como se praticar Dharana. Porém podemos resumir tudo em poucas palavras: aquieta a bunda e foca no que está fazendo, não desvia atenção e se mantém ali. Os objetos mentais, são muito úteis como treino de concentração e até mesmo produzem ótimos resultados que nos conduzem ao Dhyana e por sua vez ao Samadhi. No entanto, não se prenda a eles, use aquilo que aprendeu, para se concentrar em um ponto no chão, uma vela ou até mesmo se concentrar em uma música. Perceba como sua mente interage com cada coisa, mas lembre-se que: está apenas se preparando para a apresentação.

 

 Assim podemos prosseguir para o segundo Samyama.





Dhyana


 Dhyana é consequência de Dharana, sendo em nossa analogia: tocar o instrumento e durante o sasgo, é o ato de sasgar. Se tratando de uma concentração que apenas reste: você e o objeto, sendo Dhyana a meditação.


 Por mais que já tenha definido exatamente o que seja Dhyana, ocorre algo estranho nesta prática: você se desassocia do seu ego. É estranho pensar que: você não se vê mais como, apenas um ser humano em cima de uma bola flutuante, tudo bem, você continua sendo isso, mas não apenas isso. É quando a mente se cala, que podemos observar com clareza o nosso reflexo refletido na água.


A sensação muda de pessoa para pessoa, porém é como estar dormindo e de repente você acorda, olha para trás e percebe que: tudo aquilo que era só um sonho. O curioso é a perda total da noção de espaço-tempo, não é que o tempo passe de maneira rápida, é que o tempo começa a passar mais rápido para você.   Talvez até mesmo durante aquela prática se pergunte: quem sou eu? De onde eu vim?  É de fato estranho, mais estranho ainda é tentar transmitir isso sem questionar a sua sanidade.


 Infelizmente, não se tem mais o que falar sobre o Dhyana, poderíamos tentar questionar a veracidade disto ou não, porém isso é irrelevante. Não importa se é real ou não, o que importa é aquela experiência e o que ela irá causar em você: as mudanças que virão em sua vida, decorrente da obtenção daquele novo estado.


 Meditação é simplesmente: estar concentrado, é focar naquilo que fazemos e isto é Dhyana. Até então não estávamos meditando, apenas obtendo as habilidades necessárias para essa prática. Uma vez atingido esse estado, é um erro achar que deve parar de treinar, pois essa sua vitória de hoje, não certeza da vitória do amanhã. Então continue sempre tentando se concentrar (praticando Dharana), às vezes vai perder, porém irá perceber que: a cada dia irá perder menos.


Devemos buscar esse estado de meditação em tudo que fazemos, para estarmos presentes e concentrados em nossas práticas diárias, não importando quais sejam.  Nem todo o momento, iremos embarcar em transes místicos, por mais que eles ocorram, talvez esse nem seja o grande objetivo. 


Então vamos para o último Samyama.




Samadhi


 Por fim chegamos ao  Samadhi, bom o Samadhi é união. Por mais que este não seja seu significado em sânscrito, na prática ele ocorre quando nos unimos com o objeto se tornando um, ou melhor, nenhum.


“O Perfeito e O Perfeito são um Perfeito, não dois, não, eles são nenhum”- Liber Al Vel Legis I-45.


Por mais que este trecho não seja apenas relacionado a isso, nada pode explicar o ato do Samadhi melhor que o Amor.  Não o desejo ou alegria, mas aquilo que une o dividido, expresso por: 2=0.  Amor é união, então devemos nos lembrar da citação inicial de Cartas aos Probacionista, o Samadhi é quando por fim conseguimos esta união com o objeto.


Indo para as nossas analogias, o Samadhi para a apresentação de Violão é: se tornar um com o instrumento, por fim anulando para gerar a melodia. Quando estamos tocando um instrumento ou realizando uma tarefa, então deixamos de lado quem somos e a nossa ferramenta, para juntos criarmos a nossa arte, sendo ela uma expressão do nosso ser, realizamos a união com ele.  Sim, a Melodia é tanto o músico quanto seu instrumento, porém é nenhum deles: ela expressa através das notas um sentimento, uma ideia, que impacta tanto quem ouve, quanto quem toca. Pois o artista se perde em meio a sua arte e de uma estranha maneira, ela molda ele e ele molda ela.


Já se trazermos para o exemplo do sasgo, o samadhi é o orgasmo: aquele momento em que você e seu parceiro se tornam um só ser, a união definitiva blindada de êxtase e você se perde em meio daquilo e se torna nada. 


Então se Dharana é uma tentativa de união em meio a multidão, Dhyana é apenas quando resta o amante e o amado, Samadhi é o amante unido com o amado, ambos se anulando, para gerar um novo.Na nossa vida diária podemos experimentar gotejos do Samadhi e ao poucos esses pequenos encontros se tornam um casamento. Busque se unir com cada coisa que faz, ver ou pensar, se una com tudo, não importa o que. Assim além de se sentir completo, irá ter tudo como parte de seu ser: “um é tudo e tudo é um”.


 Quanto maior é o objeto da união, mais profundo se torna este Samadhi. Como diria em Liber Cl sobre o amor:

              

Para nós, então, emancipados de toda lei ignóbil, que faremos nós para satisfazer nossa Vontade de Unidade? Nada menos que o Universo inteiro deve ser a nossa amante; nenhum bordel mais circunscrito que o Espaço Infinito pode ser o nosso âmbito; nenhuma noite de estupro que não seja coesa com a Eternidade mesmo!” - Liber CL, II


Portanto devemos buscar nos unir com todo o universo, assim tomando um em tudo e tudo em nada, pois no fim, quando formos nada, significa que nos unimos com o fluido universal. 




Assim concluímos a nossa jornada pela Yoga de Aleister Crowley, convido a todos a checarem as referências abaixo e praticarem Yoga. Lembrem-se de anotar tudo no diário mágico e que: Yoga não substitui médico e muito menos psicólogo. Até mais!



Referências:


  1. https://www.hadnu.org/publicacoes/liber-zelotes/cartas-aos-probacionistas/

  2. https://www.academia.edu/34792383/Aleister_Crowley_Magick_Book_Four_Liber_Aba_pdf

  3. https://www.hadnu.org/publicacoes/liber-e-vel-exercitiorum/

  4. https://www.hadnu.org/publicacoes/liber-rv-vel-spiritus/

  5. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000011.pdf

  6. https://www.hadnu.org/publicacoes/liber-cl-vel-uma-sandalia-de-lege-libellum/



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